quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Carnaval Sem Álcool

Às vezes, quando me sinto feliz, bate uma melancolia...
Logo percebo que sou eu me culpando por ter perdido tanto tempo triste, deprimida e me privando das coisas boas da vida. Tenho a sensação de que "perdi" uma década aproximadamente. Isolada, separada dos outros, remoendo mágoas e criando barreiras para tentar impedir novas formas de sofrimento. O problema desta barreira, é que ela impede também a entrada de coisas boas. E, ao dissolver essa barreira aos poucos, que é o que estou fazendo agora, sinto esse misto de alegria e tristeza.

Uma vez ouvi dizer que no idioma tibetano a palavra "culpa" não existe. Existem palavras que indicam lamento, mas no sentido de aprendizado, de "retificar as coisas no futuro". E penso: de que vale a minha culpa? Será que "perdi" tempo? Quando me sinto assim, respiro fundo e escolho acreditar que tudo o que eu vivi e a forma como reagi criaram a pessoa que sou hoje. As cicatrizes são profundas, mas são elas que me tornam única e isso é lindo. Todos nós somos únicos, não existe ninguém no planeta igual. E não são as nossas vivências que determinam isso, já que vivemos situações parecidas com as dos outros o tempo todo, boas e ruins; mas as nossas reações a essas vivências que dizem exatamente quem somos e onde estamos. E reconhecer reações destrutivas é muito positivo, já que podemos escolher como reagir da próxima vez.

Sigo então mandando a melancolia embora e me permitindo ser feliz. É preciso mesmo permitir, acreditar que eu mereço. E refletir por que será que eu aceito melhor a tristeza do que a alegria ou por que tenho mais medo do sucesso do que do fracasso. O lugar do fracasso pode ser bem acolhedor... enquanto você estiver nesse lugar, pode sentar num cantinho e reclamar ou culpar as outras pessoas. Mas o sucesso oferece um lugar onde a responsabilidade é toda sua e onde você é alvo da inveja dos que escolheram ficar no cantinho reclamando, se lamentando e encarando a felicidade como algo distante. É duro olhar para o cantinho aconchegante onde já estive, mas estou aqui, fora da zona de conforto e já bastante acostumada com a falta de álcool.

Sinto que estou saindo de um lugar de muita ignorância, egocentrismo e solidão. E isso não está ligado diretamente ao álcool, mas a mim mesma. Estou me descobrindo. Uma pena que não foi mais cedo, mas que bom que foi agora. Por que sempre será quando tiver que ser. :)

Esse carnaval foi bem importante nesse sentido. Nem sou tão fã assim da festa. Me incomoda muito a multidão, muito mesmo. Há alguns anos eu tento entender esta minha fobia de muita gente em volta. Não sei se tem a ver com uma certa sensibilidade mediúnica, me sinto como uma esponja muitas vezes, absorvendo a energia das pessoas. Eu já desmaiei em lugares públicos, em shows lotados, já me senti mal na casa das pessoas, a ponto de sentir uma urgência de ir embora sem mesmo conseguir identificar o motivo. Já passei por várias situações constrangedoras desse tipo, o que me fez tomar a decisão de não frequentar mais lugares lotados e, por consequência, fazer outros programas no carnaval.

Por outro lado, o carnaval pra mim sempre foi muito mais do que essa festa da luxúria e da bebedeira. Nasci na Bahia e as minhas origens vêm de uma cidade bucólica com menos de 20 mil habitantes chamada Belmonte. Minhas primeiras impressões do carnaval foram os momentos de alegria da família reunida, aquela família onde mora cada um num canto do país e se reencontra uma vez por ano nessa época. É o meu pai compondo marchinhas do bloco da família por telefone com os meus tios e depois todo mundo batucando pela rua cantando a nossa história. Os adultos com new wave no cabelo, com aquela mortalha enorme até os pés e as crianças brincando com confete e serpentina. São os bastidores do trio elétrico e a eletricidade de viver um momento mágico.

Nesta foto está a minha vovó, curtindo o carnaval de Belmonte com a galera. <3


















Acho que esse ano eu cheguei perto desse carnaval. Escolhi um bloco tranquilo, que fica parado na Praça XV e de fácil acesso a Niterói, o Boitatá. Saí de casa de manhã cedo e encontrei amigos queridos, sambei, dancei e me diverti muito. Tudo isso sem álcool, claro! Só fui embora quando os meus pés e pernas estavam muito cansados, quando fisicamente não agüentei, porque ainda havia a vontade de celebrar dentro de mim. Como estou fora de forma, não durei muito em comparação aos outros amigos foliões, mas para a minha realidade eu durei bastante! Durei o tempo da bateria do iphone pra ser mais exata. Eu sei, não é muita coisa mesmo! Hehehe.

A verdade é que eu não sinto mais a mínima vontade de trocar fuidos com pessoas que mal conheço ou encher a cara e acordar com aquela ressaca horrível. São apenas 3 meses sem álcool e os 2 primeiros meses foram insuportáveis, mas acho que já estou entrando num lugar onde nem gosto mais do álcool. Será possível? Estou me transformando na pessoa que eu considerava "chata" e confesso que estou com pouca paciência para a bebedeira alheia. Até o cheiro de álcool nos outros está me incomodando. A minha intenção nunca foi radicalizar, mas preciso ser sincera aqui e relatar a minha experiência, já que esta é a razão de existir desse blog.

Abre parênteses. Mais uma vez: não estou aqui para cagar regra sobre a vida dos outros. A relação das pessoas com o álcool e as demais drogas são completamente diferentes. A minha relação com o álcool era destrutiva e eu sei que a sua pode ser ótima. Fecha parênteses.

Talvez essa sensação de não gostar do álcool, do efeito ou cheiro dele nas pessoas, passe. Talvez seja apenas mais um efeito da desintoxicação. É que estou tão feliz curtindo a vida numa outra vibração, estou tão orgulhosa de mim mesma por ter conseguido estar num lugar que parecia inatingível pra mim, que eu não desejo estar em outro lugar que não este aqui. Tá tão bom! De verdade.

Hoje acordei toda nostálgica e emocionada. Chorei muito de alegria. Às vezes quando as portas se abrem, quando as lentes ficam limpas e conseguimos enxergar com mais clareza, vem sim aquela tristeza por mim mesma e por tudo que passei na vida, mas como disse antes, escolho não sentir culpa. Por mim, sinto compaixão. Sempre. Amor. É preciso se amar muito e chorar por si mesmo. Mas não deixar de caminhar pra onde a luz aponta, pra onde a brisa é leve e as pessoas são boas. É preciso ir pra onde existe amor.

Preciso inclusive contar a vocês que no domingo, quando voltei do bloco, ainda consegui fazer a minha meditação do dia.

E só posso dizer que estou com o coração alegre.
























Namastê

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